quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Entrevista com Jacy

Jacy em 2002.
Qual é seu nome completo? Quando a senhora nasceu? Onde?­­­­­­­­
Jacy Araújo Vieira. Nasci em Maracás na Bahia em 27 de setembro de 1939.

Quem eram seus pais, avós?
Avós paternos: Romão José Vieira e Maria Torquata de Jesus
Pai: Paulino José Vieira
Avós Maternos: Vicente Ferreira de Araújo e Rosária Maria de Andrade
Mãe: Felinta Araújo Vieira

Ranulfo, ou Lindolfo.
DESAPARECIDO
Quantos irmãos a senhora teve?
Uns catorze comigo. Vamos ver... Uns morreram e eu não lembro o nome. Mª de Lourdes, Mª Mercês, Enedina, Edith, Avanir, Avacir, Carmélia, Ilda, Regina, José Augusto e Ranulfo. Ranulfo mudou o nome para Lindolfo, foi para São Paulo e tem mais de 40 anos desaparecido.

Com que idade a senhora saiu de sua cidade?
Com 6 ou 7 anos fui com minha família para Itaquara. Minha mãe era de Itaquara e a família dela morava em Jaguaquara.

Por que a senhora saiu de sua cidade?
Porque acabou tudo na fazenda de café. A condição financeira piorou...
Jacy

Morou em outra cidade depois da cidade natal e antes de Salvador? Quais?
Com mais ou menos 14 anos fui para Jequié com um primo e a família dele. Meus pais e irmãos ficaram em Itaquara. Fui porque quis conhecer lugares diferentes. É tudo perto: Maracás, Itaquara, Jaguaquara e Jequié.

Quando a senhora veio morar em salvador?
Quando eu tinha uns 17 anos... foi no ano de 1959.

Com quem e porque a senhora veio morar em salvador?
Porque a família do meu primo colocou um pensionato na Rua Carlos Gomes e eu vim morar nesse pensionato com eles.

Em quais bairros a senhora morou?
Carlos Gomes, Tororó, 2 de julho, Pero Vaz, Curuzu, Fazenda Grande, Saramandaia (o mais importante), Paripe, Mapele e agora em Stella Maris. Você não vai perguntar dos meus filhos não?

Mas, por que Saramandaia era o mais importante?
Porque é perto de tudo, hoje é um bairro chique mas antigamente era invasão.

Em quais bairros nasceram seus filhos?
Paulo César nasceu no 2 de Julho e Maria Anita também. Jô nasceu no Curuzu.

Jacy. No colo Anita e Paulo a direita,


Por que a senhora se mudou tanto?
Porque eu achava melhor morar em outros lugares e ia... a condição financeira também.

Voltando a Maracás... A senhora lembra de alguma coisa sobre a 2ª Guerra Mundial?
Lembro que o pessoal da roça escondia os filhos dentro de casa, na roça, ninguém saía. Achavam que se saíssem para a rua iam ser pegos para ir pra guerra.
Na entrada de Maracás tinha a lagoa do Macionilio que eu ouvia dizer que jogavam os presos de guerra lá.
Jacy

No que seus pais trabalhavam?
Na fazenda. Eles eram proprietários da fazenda de café. Lembro que eles davam café de presente para as “panhadeiras” de café na semana santa... bacalhau, arroz, farinha, leite... no Natal e no São João era milho verde, amendoim e feijão.
As pessoas trabalhavam Ana roça durante a semana e no sábado tinham que sair pra praça pra vender as mercadorias, animais... galinha, porco.

E como era a vida financeira dos seus pais?
No início minha mãe tinha dinheiro, era rica, e meu pais não tinha. Depois meu pai conseguiu mais dinheiro.
Meu pai começou a vida sendo tropeiro, aquela pessoa que carrega animais cheios de coisas para vender. Ele tinha tropa de burro. Viajava com as cargas de farinha, café, feijão...
Lembro que se comprava naquela época uma peça de tecido, chamava as fazendas, pra fazer os vestidos de todo mundo igual. A gente tinha as costureiras, as torradeiras (torravam café)... Minha mãe era portuguesa, parecia italiana... era bonita.

Que dia era a missa?
Uma vez no mês e cada um guardava suas melhores roupinhas para ir na missa.

E o evento mais movimentado era a feira e a missa?
Quem morava no comércio tinha mais movimento e quem morava na roça tinha de ir no comércio fazer as coisas. O transporte só era jegue, cavalo, jumento.
O forró era a festa animada, os casamentos eram festas de três dias... tinha biscoito e bolo de puba, biscoito de goma, bolo de aipim, licor. Santo Antônio também era festa de três dias.
Ia cantar roda no terreiro no São João... (cantarolando) Subi no pé de coco pra tirar coqueiro, pra tirar coqueiro, pra tirar coqueiro.”
Sábado de Aleluia, depois da Semana Santa, diziam que Aleluia passava as onze horas e a gente colocava a bacia d’água para ver a sombra passar na lua.

Quais os meios de comunicação da época?
Tinha uns rádios de bateria, umas vitrolas de antigamente.

E como era a tecnologia da época?
Tinha a máquina de manivela, eu costurei muito, Singer... tinha Vigorelli. A luz era lampião, candeeiro, o fogão era a lenha, o ferro era de carvão.
A farinha era feita na mão cevando a mandioca, um rodo para mexer, pisar o café, moer no pilão, pegar água na fonte.
Fotografia os fotógrafos iam nas portas. Conhece lambe-lambe? Tinha um pano preto...

Havia escola?
Andava muito... Tinha uma mulher que ensinava a gente, não pagava nada não... Eu ia. Ia todo mundo a pé com a “verdureira” (sandália de couro) nas mãos, para não sujar, quando estava chovendo. Os pés enchiam de barro, mas lavava na fonte. Não podia era sujar as sandálias.

A professora batia nas crianças?
A professora não batia em ninguém não. E quem era doido de bater em filha de fazendeiro? As filhas do dono da fazenda tinham até banheiro especial perto da fonte.

Mas e como foi que acabou a fazenda de café?
Eu não gosto muito de falar dessa história. O dono da casa, meu pai, morreu e tudo foi virando pó. Minha mãe foi vendendo os bichos, os cavalos, os jegues, “a troco de banana”.
Tem uma fazendinha que chamava Burracha, que minha mãe vendeu a troco de nada, sem assinatura de filho nenhum. Em distrito de Maracás. Hoje em dia terra lá é ouro... os carros passam na porta.

Fale um pouco sobre Maracás.
Maracás naquele tempo era um lugarejo e hoje é a cidade das flores.

Porque cidade das flores?
Depois que cultivaram, a cidade cresceu, descobriram novos talentos de cultivar flores. Naquela época já tinham muitas flores, mas o povo não dava valor.
Jacy com Paulo.

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